Agonismo
Agonismo, perspectiva filosófica enfatizando a importância do conflito para a política. O agonismo pode tomar uma forma descritiva, na qual se argumenta que o conflito é uma característica necessária de todos os sistemas políticos, ou uma forma normativa, na qual o conflito é considerado como tendo algum valor especial, de tal forma que é importante manter os conflitos dentro dos sistemas políticos. Frequentemente, as formas descritivas e normativas são combinadas no argumento de que, como o conflito é uma característica necessária da política, as tentativas de eliminar o conflito da política terão consequências negativas.
A forma descritiva do agonismo pode ser vista na crítica do pluralismo na ciência política levantada pelo teórico político americano William E. Connolly. Os teóricos pluralistas dos anos 50 e 60 haviam descrito o sistema político americano como um sistema em que a política proporcionava uma arena na qual diversos grupos podiam defender igualmente as suas políticas preferidas, eventualmente levando ao consenso. Connolly criticou essa teoria por ignorar as diferenças de poder entre diferentes grupos na sociedade americana, o que significava que a política não era simplesmente um processo para produzir consenso, mas um conflito que poderia resultar na imposição de políticas preferidas por alguns grupos a outros. Connolly posteriormente defendeu o que ele chamou de “respeito agonista”, que vê esse conflito como algo a ser mantido, em vez de algo a ser superado através do consenso.
A teórica política belga Chantal Mouffe, por outro lado, chegou ao agonismo ao discordar dos pressupostos normativos do liberalismo contemporâneo, particularmente a idéia do filósofo americano John Rawls de que um “pluralismo razoável” é uma condição sine qua non de uma ordem política democrática liberal. De acordo com Rawls, qualquer política liberal deve respeitar o fato de que os cidadãos vão diferir quanto às suas concepções do bem. O pluralismo que uma sociedade deve tolerar, porém, é limitado, segundo Rawls, por uma exigência de razoabilidade, ou seja, a exigência de que os cidadãos não procurem impor sua própria concepção do bem a outros que não o compartilhem. Mouffe considerou esta restrição inaceitável porque estabelece, como princípio ético que precede a política, uma restrição às concepções do bem, que deve ser decidida dentro da política. Para Mouffe, a política deve envolver diferenças que as pessoas não se contentam em apenas concordar em diferir. Um pluralismo propriamente político deve ter em conta posições diferentes que são genuinamente incompatíveis entre si. De acordo com Mouffe, quando Rawls tentou neutralizar tal conflito declarando-o “irracional”, ele assim declarou a própria política irracional.
Mouffe derivou este entendimento da importância do conflito para a política do jurista alemão Carl Schmitt. Segundo Schmitt, a característica que define o político é a identificação de um amigo e de um inimigo e o conflito que se segue entre eles. Mouffe concordou com o argumento de Schmitt de que o conflito é essencial para o político, mas argumentou que o conflito não precisa envolver a identificação de um inimigo que se quer destruir. Em vez disso, Mouffe viu o político como um conflito entre adversários que podem discordar, mas que, em última análise, respeitam o direito de existência uns dos outros. Mouffe chamou esse tipo de conflito respeitoso de “pluralismo agonista”, em contraste tanto com o antagonismo da luta de Schmitt pela destruição contra um inimigo quanto com o pluralismo razoável (e, portanto, com o conflito excluído, nãoagonista) de Rawls.