Bacia Amazônica – Brasil

Descrição
Localização e Descrição Geral
A Eco-região da floresta úmida Tapajós-Xingu fica no centro-oeste do Brasil ao sul do Rio Amazonas, compreendendo a planície interfluvial entre os Rios Tapajós e Xingu, ambos grandes afluentes do Rio Amazonas. A região se estende para o sul até a base da Serra do Cachimbo, no canto sudoeste do estado brasileiro do Pará. Estes morros separam esta bacia hidrográfica da vizinha floresta úmida Madeira-Tapajós. A região situa-se principalmente sobre o Escudo Brasileiro, formado há um bilhão de anos, que proporciona um porão cristalino e duro. O ambiente é heterogêneo com terrenos ondulados e inúmeros rios menores que dissecam os interfluentes. O maior destes rios é o Rio Iriri, que desagua no rio Xingu. Outros incluem o Jamanxim, Curuá, Crepori, Curuá-una, e Jarauçu. São todos rios estáveis de águas negras, aqueles que carregam poucos ou nenhum sedimento em suspensão, e cujas margens às vezes transbordam criando a floresta de areia branca de igapó. Alguns solos são eutróficos, ou ricos em nutrientes, em muitas áreas. Mas outras áreas são caracterizadas por solos oligotróficos nos planaltos, o que significa que são pobres em nutrientes. As elevações variam de 5 m no rio Amazonas até 200 m nas terras altas ao sul. A precipitação anual no Xingu médio é de 1.500 a 2.000 mm.

Variabilidade tomográfica gera heterogeneidade biológica na região do Tapajós-Xingu, e onde há solos eutróficos eles sustentam uma biota rica e diversificada com alta ocorrência de endemismo. As florestas são geralmente floresta tropical sempre verdejante em terra firme (terra não inundada). São caracterizadas por manchas de floresta densa submontana em uma matriz de floresta submontana de copa aberta. A floresta de planície ocorre ao longo do rio Amazonas. A região do Tapajós-Xingu abriga um tipo peculiar de floresta caracterizada por uma alta densidade de cipós (cipós lenhosos). Essas florestas de cipós ocupam milhares de quilômetros quadrados no alto relevo da porção sul e sudeste da região. São florestas tipicamente abertas que ocorrem em solos mais ricos (Prance e Brown 1987) com uma copa inferior (menos de 25 m) e mais aberta do que a típica floresta de terra firme úmida. A diferença entre estas e a floresta aberta mais típica é que nestas florestas muitas videiras lenhosas enormes ocorrem em todos os estratos da floresta. A sua presença dá a esta floresta uma complexidade estrutural inigualável em outros lugares.

A família mais importante contendo cipós é a Bignoniaceae, seguida por Leguminosae, Hippocrateaceae, Menispermaceae, Sapindaceae, e Malpighiaceae (Gentry 1991). No entanto, estas florestas abrigam grandes árvores como Apuleia molaris, Bagassa guianensis, Caryocar villosum, Hymenaea parvifolia, Tetragastris altissima, Astronium graveolens, A. le-cointei, Apuleia leiocarpa var. molaris, Sapium marmieri, Acacia polyphylla, e Elizabetha sp.

Brazilnut trees (Bertholletia excelsa) e mahogany (Swietenia macrophylla) também são encontradas aqui (Pires 1984). Numerosas árvores e videiras endêmicas ocorrem, incluindo Cenostigma tocantinum, Ziziphus itacaiunensis, e Bauhinia bombaciflora. Zollernia paraensis, uma leguminosa, Theobroma grandiflorum, um fruto semelhante ao cacau chamado cupuaçu, e Cordia goeldiana, uma árvore de madeira comum, são todas bem conhecidas no leste do Pará. Elas atingem seu limite oeste no rio Tapajós (Ducado e Negro 1953). Ao longo do rio Tapajós, a floresta de areia branca e igapó é predominante com membros da família Myrtaceae e Triplaris surinamensis, Piranhea trifoliata, Copaifera martii e Alchornea castaneaefolia. O famoso pau d’arco roxo, Tabebuia ipe, uma árvore de madeira valiosa, é comum lá.

Biodiversidade Características
A fauna da região inclui 161 espécies de mamíferos e 556 espécies de aves. O rio Tapajós é uma barreira para a distribuição de animais, plantas e insetos. Por exemplo, o capuchinho de testa branca (Cebus albifrons) e o saki (Pithecia hirsutus) ocorrem no lado oeste do rio, mas não no leste, enquanto o saki barbudo (Chiropotes albinasus) ocorre apenas no leste. O pequeno macaco titi (Callicebus moloch) também ocorre aqui, e o macaco de pescoço cinzento (Aotus infulatus) e o macaco-aranha (Ateles marginatus) são endêmicos para isto e os interfluentes para o leste. A vida selvagem fluvial inclui o jacaré-de-óculos (Caiman crocodilus), o jacaré-preto (Melanosuchus niger), a tartaruga-de-pintas-amarelas (Podocnemis unifilis), o peixe-boi americano (Trichechus inunguis) e os golfinhos do rio (Ina geoffroyensis, Sotalia fluviatilis).

Outros mamíferos grandes incluem queixadas (Tayassus pecari), queixadas de coleira (T. tajacu), pumas (Puma concolor), panteras (Panthera onca), anta (Tapirus terrestris), e veados (Mazama spp.). As muitas aves interessantes aqui encontradas incluem águias-pesqueiras (Pandion haliaetus), harpias (Harpia harpyia), tucanos (Ramphastos vitellinus), pequenas chachalacas (Ortalis motmot), nove tinamais (Crypturellus spp.), Tinamus spp.), sete araras (Ara spp.), incluindo araras-da-índia (Anodorhynchus hyacinthinus) que vivem em poucos outros lugares, muitos periquitos (Paratinga spp, Pyrrhura spp., Brotogeris spp.), papagaios (Amazona spp., Pionus spp.), e hoatzins (Opisthocomus hoazin).

Situação atual
A Estrada Transamazônica e a estrada para o sul até Cuiabá atravessam a região da floresta úmida Tapajós-Xingu. Ao longo dessas estradas, colonização, exploração madeireira, pecuária e projetos de desenvolvimento em larga escala resultam em desmatamento em larga escala e degradação da terra. Os centros urbanos aqui incluem Altimira no rio Iriri, Santarém na foz do Tapajós, e Aveiro no Baixo Tapajós. Aqui são muito poucas as áreas protegidas estabelecidas. O Parque Nacional da Amazônia está encravado no rio Tapajós, perto de Itaituba, cobrindo 9.935 km2, mas sofre de uma capacidade administrativa inadequada. A Floresta Nacional do Tapajós oferece pouca protecção às florestas perto de Aveiro.

Tipos e Gravidade das Ameaças
Expansão rápida dos padrões de desenvolvimento de abrigos ao longo das estradas e vias fluviais com aumento da colonização constituem a maior ameaça ao ambiente e aos seus habitantes. Os grandes incêndios antropogénicos que muitas vezes se encontram fora de controlo ameaçam as restantes florestas e o ambiente, tanto em termos de perda de habitat como de degradação da qualidade da água e do ar. A extração de madeira também tem degradado muitas das florestas próximas ao Rio Madeira e às rodovias. A mineração de ouro e outros minerais continua a ameaçar a vida aquática e a destruir elementos da paisagem. Esta é considerada uma região fronteiriça onde o desenvolvimento contínuo representa uma grande ameaça para a vida selvagem e a integridade ecológica. As florestas remanescentes estão severamente ameaçadas pelas atividades humanas.

Justificação da Ecorregião Delimitação
Esta ecorregião interfluvial é delimitada pelo rio Tapajós a oeste, o rio Xingu a leste e o rio Solimões (Amazonas) e várzea ao norte. Estes três rios muito grandes funcionam como uma barreira formidável para a dispersão de muitas espécies, e a ecorregião abriga assim um número de espécies endémicas (da Silva 1998). O trabalho de linha segue as classificações do IBGE (1993) de “floresta ombrófila densa de terras baixas”, “floresta ombrófila densa submontana”, e “floresta ombrófila aberta submontana” dentro dos parâmetros desses rios. Ao sul, esta ecorregião se encontra em uma floresta estacional distinta – transição de savana.

Ducke, A., e G. A. Black. 1953. Notas fitogeográficas sobre a Amazônia brasileira. Anais da Academia Brasileira de Ciências 25: 1-46.

Fundação Instituto Brasilero de Geografia Estatástica-IBGE. 1993. Mapa de vegetação do Brasil. Mapa 1:5.000.000. Rio de Janeiro, Brasil.

Gentry, A. H. 1991. A distribuição e evolução das plantas trepadeiras. Páginas 3-49 em J. Putz e H. Mooney, editores, A biologia da videira. Cambridge: Cambridge University Press.

Pires, J. M. 1984. A floresta amazônica. Páginas 581-602, em H. Sioli, editor, The Amazon: Limnologia e ecologia da paisagem de um poderoso rio tropical e sua bacia. Junk, Dordrecht.

Prance, G. T., e K. S. Brown Jr. 1987. Os principais tipos de vegetação da Amazônia brasileira. Páginas 30-31 em T. C. Whitmore e G. T. Prance, editores, Biogeografia e História do Quaternário na América Tropical. Oxford: Clarendon Press.

Silva, J.M. C. 1998. Um método para o estabelecimento de áreas prioritárias para a conservação na Amazônia Legal. Relatório preparado para a WWF-Brasil. 17 pp.

Preparado por: Robin Sears
Revisado por: Em processo