Como Brasil e México Chegarão a Termos Com a Presidência Biden

Depois que a matemática do Colégio Eleitoral ficou clara no sábado, parabéns para o presidente eleito dos EUA Joe Biden e para o vice-presidente eleito Kamala Harris vindos de toda a América Latina. Entretanto, os dois maiores países da região – Brasil e México – se destacaram. Ao não reconhecerem a vitória de Biden, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador se encontram na duvidosa companhia do presidente russo Vladimir Putin, do presidente chinês Xi Jinping e do presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

Em muitos aspectos, Bolsonaro e López Obrador foram os que mais estiveram em jogo na reeleição do presidente Donald Trump entre os líderes latino-americanos. Bolsonaro abraçou o moniker “Trump of the Tropics”, enquanto López Obrador encontrou um modus vivendi com a política externa transacional de Trump. Trump deu cobertura aos dois populistas mais notáveis da região, trazendo-os do frio diplomático durante algumas de suas horas mais sombrias. Quando Bolsonaro enfrentou uma investida de críticas de líderes mundiais sobre uma série de incêndios destrutivos na Amazônia, por exemplo, Trump ofereceu seu “apoio total e completo” ao recorde ambiental de Bolsonaro.

Bolsonaro, que se rendeu a Trump, escapou de qualquer menção às eleições americanas nos últimos dias. Por outro lado, três de seus filhos, todos políticos que têm papéis de destaque em sua administração, tweeted confabulações sobre fraudes eleitorais e questionaram a legitimidade do próprio sistema de votação eletrônica do Brasil. Recentemente, Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho do presidente, reclamou de uma conspiração de esquerda quando organizações jornalísticas se recusaram a dar crédito às falsas alegações de Trump de que a vitória havia sido roubada dele.

Meanwhile, López Obrador disse explicitamente que aguardará a resolução de todos os desafios legais antes de parabenizar o vencedor. Embora alguns observadores de ambos os lados da fronteira retratassem sua jogada como um perfil de prudência e comedimento, o presidente mexicano não exerceu nem prudência nem comedimento quando se movimentou para parabenizar rapidamente Evo Morales, da Bolívia, após as eleições presidenciais do ano passado, que se deparou com alegações (altamente críveis) de fraude. Afinal, este é um homem que, por sua derrota nas eleições de 2006, acusou o vencedor, Felipe Calderón, de manipular o voto. Ele até fez uma inauguração falsa na Cidade do México com a presença de cerca de 100.000 pessoas para anunciar o início do seu “governo paralelo”. O perfil do político cresceu ao ponto de ele se tornar um candidato perene à presidência, até eventualmente ganhar em 2018.

Obtendo-se claro, ambos os líderes acabarão por ter de se conformar com a presidência Biden. O risco de ficar órfão nas Américas é muito grande. Bolsonaro pode achar necessário recalibrar suas políticas, especialmente em relação ao meio ambiente, se quiser continuar o realinhamento da política externa brasileira em relação aos Estados Unidos. Mas também o apelo duradouro da marca Trump, aliado ao que Trump pintou como a estreita margem de vitória de Biden, pode embolar Bolsonaro enquanto se prepara para sua própria reeleição em 2022.

Quanto mais tempo López Obrador aguentar, mais ele corre o risco de prejudicar a boa vontade bipartidária da relação entre EUA e México. Tensão desnecessária não é como ele deveria querer iniciar a relação do México com o governo Biden, especialmente com tanta coisa em jogo para seu plano anticorrupção e a contínua implementação do Acordo Estados Unidos-México-Canadá, o substituto do governo Trump pelo NAFTA.

Pode ser muito cedo para extrair respostas definitivas sobre o que isso significa para o futuro dos EUA.Relações Brasil e EUA-México, mas o silêncio de Brasília e Cidade do México é ensurdecedor.